Bashir Alyan, ex-empregado da autoridade palestina, que agora está vivendo em uma tenda em Rafah com cinco crianças. Foto: The Guardian
O ataque realizado pelo Irã em Israel testou as defesas aéreas do país, mas ao menos por hora, também fortaleceu o relacionamento ferido entre Tel Aviv e Washington, e tirou a guerra e fome em Gaza das manchetes e a mandou para baixo na agenda diplomática.
Em Gaza, onde quase toda a população civil está deslocada e sem comida depois de mais de seis meses de guerra, essa mudança na atenção global foi sentida imediatamente.
“Nações e indivíduos simpatizavam conosco, mas agora a simpatia está do lado de Israel.” disse Bashir Alyan, um ex-empregado da autoridade palestina, que agora está vivendo em uma tenda em Rafah com seus cinco filhos. “Da noite pro dia, Israel agora é a vítima.”
Ele viu a mudança súbita no foco diplomático, porque as vidas de sua família dependem dele. Eles estão vivendo principalmente do auxílio da UNWRA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, e comem só duas refeições por dia. Ele perdeu 20kg nesses seis meses.
“As pressões internacionais que estavam sido exercidas em Israel para permitir mais auxílio e cessar a agressão contra Gaza agora são coisa do passado.” ele disse, embora ele não tenha simpatia com o Irã “Os problemas do Irã não são nossos problemas. Eles perseguem só os próprios interesses.”
O presidente dos EUA, Joe Biden, estava aumentando a pressão para que Israel melhorasse o acesso de trabalhadores humanitários, e deixasse mais auxílio chegar a Gaza, em particular após a morte de sete pessoas trabalhando com o grupo World Central Kitchen em Março.
A chefe de apoio americana, Samantha Power, na semana passada foi a primeira oficial do país a confirmar que a fome estava se instalando no território. Nos EUA e Reino Unido haviam discussões sobre a legalidade de vender armas a Israel, dadas as condições em Gaza.
Em resposta, Israel havia prometido “inundar” Gaza com apoio, melhorar a coordenação com humanitários para que eles pudessem prestar apoio sem temer serem atacados, abrir caminhos direto ao norte de Gaza onde a fome é mais extrema, e permitir que comidas chegassem pelo porto em Asdod.
A implementação dssas medidas havia sido imperfeita, com uma estrada aberta, mas com as Nações Unidas — Que são responsáveis pela maior parte do apoio a Gaza no momento — Não tendo permissão para usá-la ainda. Mas o posicionamento do Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Nethanyu, parecia estar mudando lentamente.
O ataque iraniano no fim de semana, em resposta a um ataque israelense em uma embaixada em Damasco, efetivamente obrigou os EUA e outros aliados a deixarem suas diferenças para trás e apoiar Israel.
“Com todos os olhos nas tensões perigosas entre Israel e Irã, estamos preocupados que Gaza será abandonada”, disse Tania Hary, diretora executiva de Gisha, uma ONG israelense que busca proteger a liberdade de movimento dos palestinos, em particular aqueles em Gaza.
“Os passos que haviam sido dados no mês passado para expandir o acesso eram perigosamente inadequados e não respondiam adequadamente à crise, mas o pouco que aconteceu foi por conta de pressão internacional. Com tantas vidas em jogo, o mundo não pode desviar os olhos.”
Deixe um Comentário